segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Uso da Ritalina no TDAH

Para alguns é considerada como a solução exata para efeitos neurobiológicos, para outros é vista como um exagero, baseado num modismo de medicalização. Em ambas as vertentes, a “Ritalina”, medicamento mais indicado para pessoas diagnosticadas com TDAH, é alvo de críticas sobre seus benefícios e prejuízos à saúde e a vida social do indivíduo.

É importante ressaltar que o TDAH é um “Transtorno” e não uma “Doença”, detalhe que faz toda diferença ao se obter um diagnóstico e ao iniciar um tratamento. E qual é a diferença entre esses termos?

Transtorno indica a existência de um conjunto de sintomas ou comportamentos cujo início ocorre invariavelmente no decorrer da infância, com um comprometimento ou atraso no desenvolvimento de funções relacionadas à maturação biológica do sistema nervoso central, não envolvendo remições e recaídas. Já o que caracterizamos como Doença é por condição anormal de um organismo que interfere nas funções corporais e está associada a sintomas específicos. É considerada como uma disfunção de um organismo causada por agentes externos ou não, ou qualquer condição mórbida ou danosa.

Primeiramente vamos destrinchar um pouco sobre o que é a Ritalina e seus efeitos neurológicos e cognitivos, seus benefícios e os seus riscos quando usada em longo e curto prazo e, por fim, seus efeitos no desenvolvimento do sujeito que tem que se constituir socialmente.

O que é a Ritalina?

A Ritalina é o nome comercial de uma substância chamada metilfenidato (MPH). Essa substância é um estimulante do Sistema Nervoso Central (SNC), que age diminuindo a concentração de noradrenalina e, por conseguinte  aumentando a concentração de dopanima nas sinapses. A dopamina, por sua vez, é um neurotransmissor relacionado ao prazer, despertando assim no indivíduo uma sensação agradável de bem estar. Esse estimulante interage diretamente com a área da região frontal do córtex cerebral, que está relacionada com a concentração e controle das atividades cotidianas.


Fonte: http://www.buscaremedio.com.br/medicamento/13087-ritalina_la_20mg_cx_30_cap_novartis
As funções cognitivas, como memória, atenção, percepção e a linguagem, são executadas de maneira menos aguçada por portadores de TDAH, se comparados com sujeitos que não desenvolveram o transtorno. A Ritalina é colocada no mercado como um bom tratamento para o melhor desenvolvimento dessas funções.


Benefícios e riscos da Ritalina

Apesar de toda a discussão sobre usar ou não medicamento no tratamento do TDAH, principalmente em crianças, não se pode negar os seus efeitos benéficos. Já foi comprovado que a Ritalina ajuda sim na manutenção de estruturas neurológicas, fazendo com que as funções cognitivas sejam bem executadas, promovendo um avanço no desenvolvimento, seja ele escolar, familiar ou social.
No entanto o uso da Ritalina pode causar, no seu efeito colateral mais grave, a dependência química e psicológica, quando usada em longo prazo. Seu uso em curto prazo pode gerar dores de cabeça, falta de apetite, sudorese, boca seca, entre outros. Esses efeitos colaterais devem desaparecer com o tempo. De acordo com as informações contidas na bula do Concerta, que possui o mesmo princípio ativo da Ritalina,

O uso prolongado do metilfenidato (mais de quatro semanas) não foi sistematicamente avaliado em estudos controlados. Se o médico decidir utilizar Concerta em pacientes com TDAH por período prolongado, a utilidade do medicamento em cada paciente individual deve ser periodicamente reavaliada, com períodos sem medicação para verificar a condição do paciente sem o tratamento farmacológico (Concerta®. Bula. Janssen-Cilag Farmacêutica Ltda).

O uso da Ritalina em crianças deve ser acompanhado por um médico, pois pode causar problemas de crescimento ou problemas hormonais. Por isso a importância de se obter um diagnóstico multidisciplinar, de forma completa e rigorosa, para não haver erros de se fazer um tratamento medicamentoso desnecessário.

Discussão social acerca do uso da Ritalina

Partindo da concepção de que o TDAH tem início na infância e é levado para toda a vida do sujeito, podemos pensar em hipóteses ambientais, que de alguma maneira estimulam o desencadeamento desse transtorno. Não se pode pensar no Transtorno de Déficit de Atenção como sendo genuinamente biológico. Existe uma subjetividade que se apresenta na linguagem do indivíduo, quando o mesmo se coloca no mundo e se comunica. Há um contexto que envolve todo sujeito, seja ele familiar, econômico, social, cultural, enfim, um contexto que situa todo o desenvolvimento humano do sujeito. Devemos prestar atenção no contexto em que um paciente com TDAH vive e a partir daí entender como ele se desenvolve. Cohen e Siegel (1991) sugerem que “o estudo das relações entre contexto e desenvolvimento deve incluir necessariamente as facetas dos sistemas sociais, dos ambientes físicos e das pessoas participantes ativas, todos interagindo e influenciando-se mutuamente no tempo”. Por isso, o uso da Ritalina como tratamento de TDAH, principalmente em crianças, pode-se dar de forma desmedida, pois se corre o risco de confundir um transtorno com uma consequência da realidade em qual a criança se constituiu.

Diagnósticos taxativos são bastante comuns nos dias atuais, principalmente no Brasil (2º país que mais consome o medicamento). Essa medicalização, às vezes, é vista como uma forma de controlar a natureza da criança, tentando manter a ordem e a obediência.

Fonte: http://jacquesfantaisier.blogspot.com.br/2012/09/hiperatividade-e-psicomotricidade.html

A título de curiosidade podemos dizer que, em alguns casos, pessoas que não possuem o TDAH fazem sim o uso da Ritalina antes de provas e concursos, achando que assim podem reter mais informação e manter o nível de alerta. Estudos já comprovaram que esses efeitos não ocorrem, podendo ainda causar dependência e outros danos à saúde.

[REFERÊNCIAS]

Um comentário:

  1. Achei muito interessante esta fala: "Essa medicalização, às vezes, é vista como uma forma de controlar a natureza da criança, tentando manter a ordem e a obediência". Que vcs acham de discutir especialmente sobre isso? Vejo relação com aquele comentário que fez sobre a experiência do TDAH ser comumente vivida com dificuldades.

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