Para alguns é considerada como a solução
exata para efeitos neurobiológicos, para outros é vista como um exagero,
baseado num modismo de medicalização. Em ambas as vertentes, a “Ritalina”,
medicamento mais indicado para pessoas diagnosticadas com TDAH, é
alvo de críticas sobre seus benefícios e prejuízos à saúde e a vida social do
indivíduo.
É importante ressaltar que o TDAH é um
“Transtorno” e não uma “Doença”, detalhe que faz toda diferença ao se obter um
diagnóstico e ao iniciar um tratamento. E qual é a diferença entre esses
termos?
Transtorno indica a
existência de um conjunto de sintomas ou comportamentos cujo início ocorre
invariavelmente no decorrer da infância, com um comprometimento ou atraso no
desenvolvimento de funções relacionadas à maturação biológica do sistema
nervoso central, não envolvendo remições e recaídas. Já o que caracterizamos
como Doença é por condição
anormal de um organismo que interfere nas funções corporais e está associada a
sintomas específicos. É considerada como uma disfunção de um organismo causada
por agentes externos ou não, ou qualquer condição mórbida ou danosa.
Primeiramente vamos destrinchar um pouco
sobre o que é a Ritalina e seus efeitos neurológicos e cognitivos, seus
benefícios e os seus riscos quando usada em longo e curto prazo e, por fim, seus
efeitos no desenvolvimento do sujeito que tem que se constituir socialmente.
O que é a
Ritalina?
A Ritalina é o nome comercial de uma substância chamada metilfenidato (MPH). Essa substância é um estimulante do Sistema Nervoso Central (SNC),
que age diminuindo a concentração de noradrenalina e, por conseguinte aumentando a concentração de dopanima nas
sinapses. A dopamina, por sua vez, é um neurotransmissor relacionado ao prazer,
despertando assim no indivíduo uma sensação agradável de bem estar. Esse
estimulante interage diretamente com a área da região frontal do córtex
cerebral, que está relacionada com a concentração e controle das atividades
cotidianas.
Fonte: http://www.buscaremedio.com.br/medicamento/13087-ritalina_la_20mg_cx_30_cap_novartis |
As funções cognitivas, como memória, atenção, percepção e a linguagem, são executadas de maneira menos aguçada por portadores de TDAH, se comparados com sujeitos que não desenvolveram o transtorno. A Ritalina é colocada no mercado como um bom tratamento para o melhor desenvolvimento dessas funções.
Benefícios e riscos da Ritalina
Apesar de toda a discussão sobre usar ou não medicamento no
tratamento do TDAH, principalmente em crianças, não se pode negar os seus
efeitos benéficos. Já foi comprovado que a Ritalina ajuda sim na manutenção de
estruturas neurológicas, fazendo com que as funções cognitivas sejam bem
executadas, promovendo um avanço no desenvolvimento, seja ele escolar,
familiar ou social.
No entanto o uso da Ritalina pode causar, no seu efeito colateral
mais grave, a dependência química e psicológica, quando usada em longo prazo.
Seu uso em curto prazo pode gerar dores de cabeça, falta de apetite, sudorese,
boca seca, entre outros. Esses efeitos colaterais devem desaparecer com o
tempo. De acordo com as informações contidas na bula do Concerta, que possui o mesmo princípio ativo da Ritalina,
O uso prolongado do metilfenidato (mais de quatro
semanas) não foi sistematicamente avaliado em estudos controlados. Se o médico
decidir utilizar Concerta em pacientes com TDAH por período prolongado, a
utilidade do medicamento em cada paciente individual deve ser periodicamente
reavaliada, com períodos sem medicação para verificar a condição do paciente
sem o tratamento farmacológico (Concerta®. Bula. Janssen-Cilag Farmacêutica Ltda).
O uso da Ritalina em crianças deve ser acompanhado por um médico,
pois pode causar problemas de crescimento ou problemas hormonais. Por isso a
importância de se obter um diagnóstico multidisciplinar, de forma completa e
rigorosa, para não haver erros de se fazer um tratamento medicamentoso
desnecessário.
Discussão social acerca do uso da
Ritalina
Partindo da concepção de que o TDAH tem início na infância e é
levado para toda a vida do sujeito, podemos pensar em hipóteses ambientais, que
de alguma maneira estimulam o desencadeamento desse transtorno. Não se pode
pensar no Transtorno de Déficit de Atenção como sendo genuinamente biológico.
Existe uma subjetividade que se apresenta na linguagem do indivíduo, quando o
mesmo se coloca no mundo e se comunica. Há um contexto que envolve todo
sujeito, seja ele familiar, econômico, social, cultural, enfim, um contexto que
situa todo o desenvolvimento humano do sujeito. Devemos prestar atenção no
contexto em que um paciente com TDAH vive e a partir daí entender como ele se
desenvolve. Cohen e Siegel (1991) sugerem que “o estudo das
relações entre contexto e desenvolvimento deve incluir necessariamente as
facetas dos sistemas sociais, dos ambientes físicos e das pessoas participantes
ativas, todos interagindo e influenciando-se mutuamente no tempo”. Por isso, o uso da Ritalina como tratamento de TDAH,
principalmente em crianças, pode-se dar de forma desmedida, pois se corre o
risco de confundir um transtorno com uma consequência da realidade em qual a
criança se constituiu.
Diagnósticos taxativos são bastante comuns nos
dias atuais, principalmente no Brasil (2º país que mais consome o
medicamento). Essa medicalização, às vezes, é vista como uma forma de controlar a
natureza da criança, tentando manter a ordem e a obediência.
Fonte: http://jacquesfantaisier.blogspot.com.br/2012/09/hiperatividade-e-psicomotricidade.html |
A
título de curiosidade podemos dizer que, em alguns casos, pessoas que não
possuem o TDAH fazem sim o uso da Ritalina antes de provas e concursos, achando
que assim podem reter mais informação e manter o nível de alerta.
Estudos já comprovaram que esses efeitos não ocorrem, podendo ainda causar
dependência e outros danos à saúde.
[REFERÊNCIAS]
[REFERÊNCIAS]
Achei muito interessante esta fala: "Essa medicalização, às vezes, é vista como uma forma de controlar a natureza da criança, tentando manter a ordem e a obediência". Que vcs acham de discutir especialmente sobre isso? Vejo relação com aquele comentário que fez sobre a experiência do TDAH ser comumente vivida com dificuldades.
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