sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Neurofeedback para TDAH

Na nossa página Sobre TDAH  citamos o Neurofeedback como uma das formas de tratamento para esse transtorno. Nesta publicação veremos de forma mais aprofundada o que é e como funciona o Neurofeedback, quais são as implicações do uso dessa modalidade de terapia e comprovações de sua eficácia enquanto ferramenta para o tratamento do Déficit de Atenção com Hiperatividade.

Primeiramente, vamos falar sobre quais alterações ocorrem no cérebro de uma pessoa com TDAH. Sabemos que este é um transtorno neurobiológico, mas o que acontece de fato no cérebro de um portador desse transtorno?

O TDAH está associado a uma diminuição da concentração dos neurotransmissores “dopamina” e “noradrenalina”. Essa disfunção afeta as funções da região pré-frontal do cérebro, que é responsável por controlar os impulsos, regular comportamentos e também pela capacidade de organização planejamento, atenção e memória. De acordo com Rohde e Halpern (2004), dois sistemas atencionais devem ser levados em conta:


Um anterior, que parece ser dopaminérgico e envolve a região pré-frontal e suas conexões subcorticais (responsável pelo controle inibitório e funções executivas, como a memória de trabalho), e ouro posterior, primariamente noradrenérgico (responsável pela regulação da atenção seletiva).¹

Assim, o objetivo do tratamento com Neurofeedback é fazer com que o indivíduo seja capaz de atuar na modificação de padrões cerebrais relacionados aos sintomas do TDAH.

O que é Neurofeedback?

O Neurofeedback, também conhecido como EEG Biofeeddback, é um tipo de treinamento que permite uniformizar as alterações cerebrais, baseando-se no registro e análise automática da atividade elétrica do cérebro. Esta é uma técnica não invasiva que detecta os padrões de ondas cerebrais e os redireciona para estimular as habilidades naturais do cérebro e corrigir distúrbios em quadros clínicos de caráter neurológico, psiquiátrico ou psicológico (DIAS, 2010).²

É uma modalidade de condicionamento operante, isto é, um mecanismo de aprendizagem de um novo comportamento que visa gerar um hábito a partir da ação do indivíduo. No caso do TDAH, o equipamento de Eletroencefalograma (EEG) irá possibilitar o reconhecimento de sinais de distração e ensinar o cérebro a alterar as frequências das ondas cerebrais nas áreas que demandam correção.

Como funciona o Neurofeedback?

Sabemos que o nosso cérebro funciona transmitindo pequenas descargas elétricas de um neurônio para outro. Assim, são colocados sensores no couro cabeludo do paciente, para medir a atividade cerebral. Isso é feito a partir de um Eletroencefalograma (EEG), que faz o registro gráfico das correntes elétricas do cérebro em tempo real.3

A partir desses sensores, pode-se ver na tela do computador toda a atividade elétrica do cérebro e, através de uma avaliação, estabelecer o que precisa ser treinado, em quais regiões do cérebro e como as informações serão enviadas de volta (feedback) para o cérebro. Com o Neurofeedback pode-se treinar uma pessoa a aumentar ou diminuir a produção de qualquer uma das faixas de frequência das ondas cerebrais no local do cérebro desejado, de acordo com o que se pretende alcançar.4

Classificação das faixas de ondas cerebrais e seus respectivos estados mentais.
Fonte: http://www.brainvistta.com/português/fundamentos/o-que-são-ondas-cerebrais/

Como mostra a figura acima, ondas abaixo de 8 pulsos por segundo são consideradas ondas lentas (Teta, 4-7 Hz), estando o cérebro num estado de profundo relaxamento e inatividade. O que ocorre no TDAH é um excesso de atividade dessas ondas lentas no córtex pré-frontal.

Em geral, quando prestamos atenção em uma tarefa, áreas especializadas do cérebro se ativam e ele fica “acelerado”. Para pessoas com déficit de atenção, esse processo natural de “acelerar” não ocorre e algumas vezes, durante as tarefas cognitivas, há um aumento das ondas mais lentas, dificultando ainda mais os processos cognitivos (GOMES, 2013).5 O treinamento com neurofeedback irá então atuar na modificação consciente destes padrões, buscando o aumento de ondas beta.

O Neurofeedback tem comprovação científica?

O Neurofeedback é uma alternativa não farmacológica para o tratamento de TDAH cuja eficácia tem sido largamente demonstrada nos últimos anos. Assim, o Neurofeedback vem sendo avaliado como uma ferramenta fundamental para modular a plasticidade cerebral de forma natural, segura e indolor, com resultados positivos.

De acordo com Rabiner (2012), a Academia Americana de Pediatria reconheceu o neurofeedback como uma técnica com eficácia nível 5 (Efficacious and Specific), com um largo efeito para a desatenção e impulsividade e efeito moderado para hiperatividade. Entretanto, numa revisão de literatura realizada pelo Journal of Attention Disorders (Lofthouse et. al., 2011), alguns pesquisadores consideram que o conceito 3 (Probably Efficacious) seria o mais apropriado, já que ainda não está claro o porquê da ocorrência de benefícios para este tipo de tratamento.6

Em outras palavras, a pesquisa estabelece que o tratamento com neurofeedback produz benefícios para os sintomas nucleares de TDAH, mas não explica nitidamente o que de fato gera tais benefícios. Assim, "seria o aprender a controlar a atividade elétrica do cérebro que produz melhoramentos? Ou fatores não específicos associados ao tratamento (por exemplo, efeitos de expectativa, elogios para o esforço despendido, etc.) é o que realmente produz esses ganhos?" (RABINER, 2012)

Vale salientar que, embora os benefícios a longo prazo do tratamento por neurofeedback possam permanecer em desenvolvimento, as evidências sobre os benefícios a longo prazo do tratamento medicamentoso também continuam bastante limitadas (RABINER, 2012).

Dr. Rabiner (2012) considera que fornecer esse contexto pode ajudar as famílias a entender melhor os pontos fortes e limitações da pesquisa existente sobre neurofeedback e capacitá-los a fazer uma decisão mais informada sobre considerar esta opção de tratamento.

A Sociedade Internacional para Neurofeedback e Pesquisa (ISNR - sigla em inglês) também produziu um trabalho de revisão de literatura baseado em evidências sobre a eficácia do neurofeedback como tratamento do TDAH. Acesse o trabalho completo clicando aqui [em inglês].7

Mais informações: NEUROFEEDBACK no tratamento do TDAH - por Paulo Mattos

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