Na
nossa página Sobre TDAH citamos
o Neurofeedback como uma das formas de tratamento para esse transtorno. Nesta
publicação veremos de forma mais aprofundada o que é e como funciona o
Neurofeedback, quais são as implicações do uso dessa modalidade de terapia e
comprovações de sua eficácia enquanto ferramenta para o tratamento do Déficit
de Atenção com Hiperatividade.
Primeiramente, vamos falar sobre quais
alterações ocorrem no cérebro de uma pessoa com TDAH. Sabemos que este é um
transtorno neurobiológico, mas o que acontece de fato no cérebro de um portador
desse transtorno?
O TDAH está associado a uma diminuição da concentração
dos neurotransmissores “dopamina” e “noradrenalina”. Essa disfunção afeta as
funções da região pré-frontal do cérebro, que é responsável por controlar os
impulsos, regular comportamentos e também pela capacidade de organização
planejamento, atenção e memória. De acordo com Rohde e Halpern (2004), dois
sistemas atencionais devem ser levados em conta:
Um anterior,
que parece ser dopaminérgico e envolve a região pré-frontal e suas conexões
subcorticais (responsável pelo controle inibitório e funções executivas, como a
memória de trabalho), e ouro posterior, primariamente noradrenérgico
(responsável pela regulação da atenção seletiva).¹
Assim,
o objetivo do tratamento com Neurofeedback é fazer com que o indivíduo seja
capaz de atuar na modificação de padrões cerebrais relacionados aos sintomas do
TDAH.
O que é
Neurofeedback?
O
Neurofeedback, também conhecido como EEG Biofeeddback, é um tipo de treinamento
que permite uniformizar as alterações cerebrais, baseando-se no registro e
análise automática da atividade elétrica do cérebro. Esta é uma técnica não
invasiva que detecta os padrões de ondas cerebrais e os redireciona para
estimular as habilidades naturais do cérebro e corrigir distúrbios em quadros
clínicos de caráter neurológico, psiquiátrico ou psicológico (DIAS, 2010).²
É uma
modalidade de condicionamento operante, isto é, um mecanismo de aprendizagem de
um novo comportamento que visa gerar um hábito a partir da ação do indivíduo. No
caso do TDAH, o equipamento de Eletroencefalograma (EEG) irá possibilitar o
reconhecimento de sinais de distração e ensinar o cérebro a alterar as
frequências das ondas cerebrais nas áreas que demandam correção.
Como
funciona o Neurofeedback?
Sabemos que o nosso cérebro funciona
transmitindo pequenas descargas elétricas de um neurônio para outro. Assim, são
colocados sensores no couro cabeludo do paciente, para medir a atividade
cerebral. Isso é feito a partir de um Eletroencefalograma (EEG), que faz o
registro gráfico das correntes elétricas do cérebro em tempo real. 3
A partir desses sensores, pode-se ver na tela
do computador toda a atividade elétrica do cérebro e, através de uma avaliação,
estabelecer o que precisa ser treinado, em quais regiões do cérebro e como as
informações serão enviadas de volta (feedback)
para o cérebro. Com o Neurofeedback pode-se treinar uma pessoa a
aumentar ou diminuir a produção de qualquer uma das faixas de frequência das
ondas cerebrais no local do cérebro desejado, de acordo com o que se pretende alcançar. 4
Classificação das faixas de ondas cerebrais e seus respectivos estados mentais. Fonte: http://www.brainvistta.com/português/fundamentos/o-que-são-ondas-cerebrais/ |
Como mostra a figura acima, ondas abaixo de 8 pulsos por segundo são consideradas ondas lentas (Teta, 4-7 Hz), estando o cérebro num estado de profundo relaxamento e inatividade. O que ocorre no TDAH é um excesso de atividade dessas ondas lentas no córtex pré-frontal.
Em geral, quando prestamos atenção em uma tarefa,
áreas especializadas do cérebro se ativam e ele fica “acelerado”. Para pessoas
com déficit de atenção, esse processo natural de “acelerar” não ocorre e
algumas vezes, durante as tarefas cognitivas, há um aumento das ondas mais
lentas, dificultando ainda mais os processos cognitivos (GOMES, 2013).5 O
treinamento com neurofeedback irá então atuar na modificação consciente destes padrões,
buscando o aumento de ondas beta.
O
Neurofeedback tem comprovação científica?
O Neurofeedback é uma alternativa não
farmacológica para o tratamento de TDAH cuja eficácia tem sido largamente
demonstrada nos últimos anos. Assim, o Neurofeedback vem sendo avaliado como
uma ferramenta fundamental para modular a plasticidade cerebral de forma
natural, segura e indolor, com resultados positivos.
De acordo com Rabiner (2012), a Academia
Americana de Pediatria reconheceu o neurofeedback como uma técnica com eficácia
nível 5 (Efficacious and Specific), com
um largo efeito para a desatenção e impulsividade e efeito moderado para
hiperatividade. Entretanto, numa revisão de literatura realizada pelo Journal of Attention Disorders (Lofthouse
et. al., 2011), alguns pesquisadores consideram que o conceito 3 (Probably Efficacious) seria o mais
apropriado, já que ainda não está claro o porquê da ocorrência de benefícios
para este tipo de tratamento.6
Em outras palavras, a pesquisa estabelece que o
tratamento com neurofeedback produz benefícios para os sintomas nucleares de
TDAH, mas não explica nitidamente o que de fato gera tais benefícios. Assim, "seria
o aprender a controlar a atividade elétrica do cérebro que produz melhoramentos?
Ou fatores não específicos associados ao tratamento (por exemplo, efeitos de
expectativa, elogios para o esforço despendido, etc.) é o que realmente produz
esses ganhos?" (RABINER, 2012)
Vale salientar que, embora os benefícios a
longo prazo do tratamento por neurofeedback possam permanecer em
desenvolvimento, as evidências sobre os benefícios a longo prazo do tratamento
medicamentoso também continuam bastante limitadas (RABINER, 2012).
Dr. Rabiner (2012) considera que fornecer esse
contexto pode ajudar as famílias a entender melhor os pontos fortes e
limitações da pesquisa existente sobre neurofeedback e capacitá-los a fazer uma
decisão mais informada sobre considerar esta opção de tratamento.
A Sociedade Internacional para Neurofeedback e
Pesquisa (ISNR - sigla em inglês) também produziu um trabalho de revisão de literatura baseado em
evidências sobre a eficácia do neurofeedback como tratamento do TDAH. Acesse o trabalho completo clicando aqui [em inglês].7
Mais informações: NEUROFEEDBACK no tratamento do TDAH - por Paulo Mattos
Mais informações: NEUROFEEDBACK no tratamento do TDAH - por Paulo Mattos
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