Inato ou
adquirido? Biológico ou Ambiental? Objetivo ou subjetivo? Individual ou social?
A análise científica dos fenômenos está constantemente atravessada por
dicotomias, e, no estudo etiológico do Transtorno do Déficit de Atenção com
Hiperatividade (TDAH), não poderia ser diferente. As discussões quanto à origem
do TDAH são frequentes. Algumas técnicas de neuroimagem fornecem evidências
sobre ser este um transtorno neurobiológico, outros estudos sobre a genética do
TDAH se dedicaram a apontar até mesmo sua recorrência familiar – “57% das crianças com TDAH têm pais afetados com o
transtorno, com um risco de 15% entre irmãos. Também confirmaram esta teoria os
estudos feitos com gêmeos monozigotos, nos quais se constatou a
concordância de 51%, enquanto em dizigotos a concordância é de 33% com
maior incidência de TDAH em familiares de primeiro grau do indivíduo afetado.”
(FARAONE & cols., 1992 apud COUTO;
MELO-JUNIOR; GOMES, 2010, p. 3). Por outro
lado, pesquisadores apontam o TDAH como uma patologia construída, que deve ser
analisada considerando também o contexto onde se desenvolve porque o crescente
número de diagnósticos movimenta o mercado farmacológico, dado que, o metilfenidato
(Ritalina) é uma medicação comumente recomendada no tratamento do transtorno,
assim como outros estimulantes, e interesses desta indústria podem estar
envolvidas no processo de diagnóstico.
A neurobiologia...
No
entanto, pesquisas assinalam que há, realmente, sistemas neurobiológicos
envolvidos no Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade, de modo que
“existe uma disfunção da
neurotransmissão dopaminérgica na área frontal (pré-frontal, frontal motora,
giro cíngulo); regiões subcorticais (estriado, tálamo médiodorsal) e a região
límbica cerebral (núcleo acumbens, amígdala e hipocampo).” (COUTO; MELO-JUNIOR;
GOMES, 2010, p. 4). Alterações nestas regiões estariam envolvidas com a
impulsividade enquanto que nos circuitos do córtex pré-frontal e amígdala
influenciariam, além da impulsividade, em esquecimento, distração e
desorganização. A influência do sistema noradrenérgico nos processos de atenção
veio a ser descoberto posteriormente a estes estudos.
O
contexto...
Um fato curioso nesse sentido é a
comparação que foi feita entre crianças americanas e francesas quanto ao
diagnóstico do TDAH. Enquanto nos Estados Unidos ao menos 9% das crianças em
idade escolar, na França este número se reduz a menos de 0,5%. Por que isso
ocorre? Os psiquiatras americanos consideram as causas do TDAH como biológicas,
logo, o tratamento também é biológico, com estimulantes como Ritalina e
Adderal. Já os psiquiatras franceses concebem o transtorno como uma condição
médica de causas psicossociais e situacionais. Então, avaliam o problema
segundo o contexto social subjacente à criança e tratam com psicoterapia e
aconselhamento familiar. Os psiquiatras franceses criaram, inclusive, um
sistema de classificação alternativo ao DSM-3, utilizado pelos americanos. O foco deste
sistema francês, o CFTMEA (Classification
Française des Troubles Mentaux de L’Enfant et de L’Adolescent ), está em
identificar e tratar as causas psicossociais que subjazem aos sintomas das
crianças, ao invés de disfunções químicas e biológicas.
Outro fator
que está implicado neste processo de debate biológico-cultural e que deve ser
considerado aqui é a diferença entre os estilos de paternagem americana e
francesa. Os pais franceses têm uma filosofia diferente de disciplina, os
limites são firmemente estabelecidos e a hierarquia familiar é clara, enquanto
nas famílias americanas costuma ocorrer o inverso.
Leia mais
em: http://goo.gl/5kbH8
Quebrando a dicotomia...
Embora
argumentos de ambos os lados tenham sido apresentados, é importante conceber o
TDAH como fruto da interação organismo-meio. Não determinado pela neurobiologia
ou pelo contexto, não de que lado está a razão, mas como a biologia e o
ambiente mutuamente se influenciam na construção do problema. Porque sempre
caímos na dicotomia se uma visão interacionista é sempre mais produtiva?
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