Como se
sabe, o TDAH vem sendo relacionado a alterações de natureza neurobiológica,
genética e neuroquímica. A primeira delas faz referência a uma disfunção
executiva do córtex pré-frontal, que levaria a dificuldades na organização,
planejamento e autorregulação. Segundo Barkley citado por Lopes et al. (2005), estudos utilizando
técnicas de neuro-imagem revelam um comprometimento do lobo frontal e de
estruturas subcorticais com ele relacionadas.1 Com relação à
genética, muito se fala sobre a sua influência e herdabilidade no TDAH. Diferentes
genes vêm sendo investigados e dados de estudos neurobiológicos sugerem o
envolvimento dos genes que codificam componentes dos sistemas dopaminérgico,
noradrenérgico e serotoninérgico. Já sobre a neuroquímica, apontam-se dois
sistemas mais importantes relacionados ao TDAH: o sistema dopaminérgico e o
sistema noradrenérgico, sem falar numa possível influência do sistema
serotoninérgico (ROHDE & MATTOS, 2003, p. 45).2
Acredita-se
que a inicial falta da demonstração de que o transtorno é causado por um
conjunto de aspectos biológicos foi o que pôs sua existência como duvidosa. E
foi a partir da década de 80 que foram levantadas as primeiras hipóteses acerca
do envolvimento dos lobos frontais na disfunção atencional.3
Recentemente, exames de neuroimagem como a ressonância magnética (RM) e o PET
(Tomografia por Emissão de Positrões), têm contribuído para caracterização do
transtorno.
Como se vê,
os aspectos biológicos da etiologia descrita na literatura do TDAH têm sido
bastante enfatizados, o que pode levar a uma tendência em insistir numa
explicação reducionista em detrimento de qualquer outra. Isso significa dizer
que fenômenos muito complexos acabam por ser explicados por meio de fragmentos,
em que o processo objetivado e quantificado deixa de ser propriedade do
indivíduo e passa a ser propriedade de uma parte desse indivíduo (BRZOZOWSKI & CAPONI, 2012).4
Além disso, muito se questiona acerca dos mecanismos
biológicos envolvidos na atenção e na impulsividade, já que a explicação para o
transtorno parte do resultado do mecanismo de ação do medicamento que se
utiliza para tratá-lo. Assim, como o mecanismo de ação dos estimulantes
está relacionado com a dopamina, há uma busca por genes que tenham relação com
essa via (BRZOZOWSKI & CAPONI, 2012).4 Entretanto, se os
baixos níveis da dopamina seriam responsáveis pela desatenção, enquanto que o
descontrole da atividade dopaminérgica estaria relacionado à hiperatividade5,
quais seriam, por sua vez, as causas desse desequilíbrio?
Finalmente, é preciso
entender que o diagnóstico do TDAH também depende de fatores contextuais e que,
numa visão de conjunto, envolvem tanto tais aspectos biológicos como as
condições ambientais, que permitem e modulam as várias apresentações do
transtorno. Além disso, é preciso ter cuidado ao apontar explicações
reducionistas ou deterministas relacionadas às regiões
cerebrais, neurotransmissores ou genes envolvidos no transtorno. Já que os fenômenos
da vida são complexos, as explicações sobre eles são mais adequadas quando levam
em conta tanto a dimensão biológica como a social, atentando para uma compreensão
integral dessa relação.
[REFERÊNCIAS]
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